quinta-feira, 30 de maio de 2013

XXV



Quando passo em cada esquina 
Todo espinho me ensina
Todo mestre me engana 
Todo ser passa e me arranha

Se cada todo fosse todo cada
Veria em cada lagrima o oceano
Veria em cada queda d’água um deus chorando
Qualquer pedaço de nada seria minha morada

Se cada ser fosse meu mestre
Ouviria a sabedoria de tudo o que cala 
Ouviria a solidão de tudo o que fala 
Saberia medir em tudo o ódio presente

Se cada todo demanda atenção 
Sou para com Deus um irmão
Somos todos vizinhos
Somos universos em expansão

quarta-feira, 29 de maio de 2013

XXIV



No subúrbio do meu olho
Não se vê 
Qualquer que seja o teu nome
Não se lê
Eu vejo todos os fatos

Pelo céu aberto em poesia 
Tanta maravilha que a gente não crê 
Tanta gente boa que você poderia ser
Eu sou um velho cansado

Quando a gente dança é pra esquecer
Assistindo ao mar se pôr e desaparecer
Num dia a noite aberta em pecado
Você deitada ao meu lado

Na brisa do tempo é de perceber
Que o Mar é o Sol
E o Sol é você
Somos o tempo parado
Somos nós ao quadrado

XXIII



I can sing to you
About the moon and the stars
I can tell you how
To swim between space and time
I can show you now
There is no easy way out
Wherever you go
I can make you
Step outside the line
I could say we will
Never want to die
For there are times,
I know,
Everything just stop turning
And we keep getting old
I could show you how
To live inside a shell
Where it never aches
Never breaks
I could be that shell
But when it comes to me
Oh me
I am thin as hell.

XXII



E se você me perguntar onde esta a poesia
Eu lhe direi q tomei o caminho errado
E pelo verso fui abandonado
Cavei um tumulo de segredos
E nele fui aprisionado
Quando finalmente soube quem eu era
Percebi que já havia mudado
E me perguntas onde há poesia?
A poesia ficou no sorriso do estranho
Que beijou a boca da mulher que eu amava
Como dizia o poeta:
Desapareci na poeira das ruas
Enquanto outro poema me deixava
Tropecei numa pedra no meio do caminho
Beirando a estrada do nada.

XXI



Quando criança achava que devia amar as coisas.
Não todas as coisas,
Mas certas coisas.
Quando cresci, decidi que nada,
Nada tinha a obrigação de ser amado.
Quando cresci mais, percebi a importância de certas coisas,
E que sempre as havia amado.
Acho que este é o único amor verdadeiro,

Quando se ama sem pensar.

XX




Chova em mim
Hoje o tempo parou em alguém
Um infinito se apagou
Chova em mim
Que o céu derrame suas lágrimas

Sobre as minhas.

IXX



Como os homens querem asas
Para alcançar o azul
Como os mares buscam terra
Para descansar seus braços na areia
Como os olhos buscam o horizonte 
Para saber como és pequenino
Como o Sol espera a Lua
E ensina-lhe a brilhar
Como os pés vão de encontro ao chão
Sustentando-o todo
Como as infindáveis voltas
Sempre voltam para ti
Como certos desejos
Só desejam a ti
Como meu pensamento voa
E repousa em ti
Como tudo sou
Por morar em mim
Como sou tu
Por querer-te em mim
Tudo para dizer como a saudade
Fez-te metade de mim

XVIII



Corre o veneno nas minhas veias
Escorre o sangue em minhas mãos
É a febre de quem anseia 
Corre pra mim a solidão
A saudade corta a carne e fere a alma
No silêncio da minha prisão

XVII




Sabiás me floreiam
Pedras me governam
A noite sou ave de rapina
De dia sou pássaro rupestre
Um lagarto inveja minha asa
Lhe explico: Asa não uso, não
Eu voo mesmo na imaginação!

XVI



Eu existo
Sou parte do sistema 
Sigo meu caminho
Procurando um destino

Eu existo
Sou parte do problema
Me perco no caminho
Em que encontro meu destino

Eu existo
Eu amo
Eu crio
Eu vivo

Eu existo
Tenho medo
Sinto falhas
Eu rio

Eu existo
Sou homem
Sou criança
Sou meu filho

Eu existo
Caminho pelo rio vivo
De amor e medo
Onde o destino se atrapalha

Eu existo
Eu sinto minha falha
Sou todo problema 
Mas insisto

Eu existo
Sou eu
Sou meu deus
Sou meu próprio infinito

XV



Meu sorriso busca a manhã na janela.
O sol cintila no azul do vestido esboçado.
Sopro no céu nuvens de arco íris
e as moldo com olhos de artesã.
Como queria estar lá
pra ver nascer todas as cores
e inventar um sabor pra cada uma.

Quem não conhece o sabor das cores
com certeza nunca provou o entardecer.
Não sabe que o crepúsculo tem gosto de baunilha.

Falar a língua do vento,
Desenhar nas estrelas da noite,
Dar nome às pedras,
Colher o cheiro das flores,
Cantar o ritmo das ondas,
Atuar num palco do tamanho do céu.
Coisas que toda criança sabe fazer

Olhar através do mundo
pelos olhos de uma criança.
Isso não cabe num pedaço de papel.
É poesia viva!

Como seria chato o mundo
sem outros mundos.
Mas há quem discorde.
Há quem confunda imaginação e ilusão.
À estes eu digo:
Meu mundo não é diferente do seu,
é maior.



XIV



Dizem que a vida vem e vai.
Sei que ela vai.
Como um rio que corre sem olhar para trás.
Sem pensar em nada, chega ao mar.
E ai então é infinito.

Mas a vida é só a vida.
E o rio é só um rio.
Se a vida fosse um rio, seria um rio.
As metáforas são mentiras que usamos parar explicar as coisas mais simples.
Tão simples que não tem explicação.

Talvez pudesse pensar no homem como uma arvore:
Que nasce, cresce, espalha suas sementes ao seu redor,
E então morre.
Pensar nisso me entristece...
Não somos arvores.
Não temos nada de infinito ou divino.
Nossas sementes podem se perder, morrer.
E é certo que não serão eternas.

Somos só homens pensando.
Inventando metáforas que dizem o que não somos.
Pois somos só homens pensando.
E quanto mais pensamos, mais longe estamos de entender coisa alguma.

XIII



Mas que graça tem essas ruas
essas casas,
essas pessoas,
esses dias,
essas noites,
todas as coisas comuns?
Que graça tem o normal?
Meus olhos não conhecem enseadas,
conhecem cobras de vidro.
Eu não gosto das palavras,
gosto das imagens que delas se formam.
Dizem que poeta enxerga além da realidade,
o que não é verdade.
Poeta não enxerga nada além do que qualquer pessoa comum
mas tem um sentimento para tudo aquilo que vê.


XII



De um rabisco vi sair um homem inteiro,
estava criando horizontes 
e ventando auroras.
Enquanto soprava vida
engolia o lápis pouco a pouco.
Fiquei cheio de abismos 
admirando a obra. 

XI



Tempo, tempo passa
O meu tempo se arrasta 
Tudo em volta de mim passa
Eu continuo aqui

Canto como canta o pássaro
No meu canto, canto
Passa o pranto, não demora
Chega a hora de dormir 

Venho de onde venho, vou
Chego sempre aonde estou
Calo o vento na calada 
Da noite de Mondesir

Vida não tem nada que a valha
Pena é que é tão pequena 
Tanta maravilha me atrapalha
O pensamento que é sentir

Coisa sem sentido a gente
Morrendo, amando inutilmente
Partido, o coração logo se sente 
Entregue a solidão

Ouça o choro quente da viola
A chuva fria do lado de fora
O meu cavalo tem certeza 
Quer sair daqui

Viajando desregrado prosa e verso 
Não sei saber onde termino, onde começo 
Te levo onde for 
Só não me diga aonde ir

X



Meus olhos tem mil mortes
Por mil causas
Cujos nomes eu não sei

Meus dias tem mil horas 
E não encontro tanto tempo pra viver
Minhas mentiras 
Com seus mil segredos 
Que eu não sei como dizer

A minha alma 
Cabe nos dentes do meu predador
E como pudesse enxergar 
Minha morte tem mil olhos
Que conhecem meus medos
E sabe os segredos 
Da vida e do tempo 
Pra falar de mil nomes 
Que eu não quero esquecer

IX



Eu corro pra lá
Eu volto pra cá
Sou água escorrendo
Em todo lugar
Danço
E não me canso
Mas nunca desvio o olhar
Clamo uma mancha no tempo
Onde eu possa dizer
Eu te amo
Pra sempre vou te amar

No espaço de um traço
No caminho de um risco
No poema te desfaço
No poema te recrio
Se são palavras seu contorno
É por ti que me apaixono

Não ligo de lhe esperar
Mas para além de toda beleza
Há sempre uma tristeza
A me maltratar
Pois sofrer
É o invevitavel veneno de amar

VIII




Meu coração é labirinto 
Tempestade de areia
Na imensidão da mente
Faca cega
Navega pela escuridão
À parte do mar de gente 
Aflito
Saturado de perdão
Perdido no conflito
Entre o Touro e a Rosa
Eu sou o Pão e a Fome

VII



E se os poemas fossem todos descartados?
E se os sonhos nascessem quebrados?
E se a dúvida for um pecado?
E se Deus é um menino mimado?
E se tudo que há de ser já é passado?
E se formos todos peões em um jogo de dados?
E se o mundo todo for um tablado?
Talvez eu já esteja morto, por descaso não fui enterrado.

VI




Quebro páginas e fujo
de tudo que ja conhecia. 
Rasgo as linhas
pra não me arrepender.
Mato o contexto
em favor do texto 
que acabo de escrever.

V



A correnteza entope as veias das pedras.
Salgando o perfume fino de pequena flor 
que se questiona:
"Serão as nuvens apenas sonhos?"
O silêncio indica o fim e o começo
de todas as dúvidas.

IV



Sabe-se dos vizinhos a fama.
Sabe-se das casas as varandas.
Sabe-se da vida até a morte.
É sabido também
que a grandeza do ínfimo
te aproximas da cama.
Em que percebes:
-Sou fruto do nome pelo qual me chamas.
-Sou pequena parcela da vida da qual reclamas.
-Quanta ironia, nós dois deitados na cama,
logo eu... um homem que não te ama!

III


Eu quero o silêncio
que a sua boca cansa de falar.
Quero o desespero do seu cheiro
no meu olhar.
Quero tudo como fosse
depois de acabar.
Nada me completa
quando meu barco é feito de areia
e seu navio está em alto mar.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

II






 Todos os dias chove.
Chuvas de palavras me completam.
Posso roubar a chuva das bocas
e derramá-la na folha
ou chorar alguma idéia 
que vá molhar outro papel


















I



Cá perdido estou
no vértice da idéia. 
Queria poder estar no ventre da língua,
assistir ao nascimento da palavra
e toma-la para mim.
Mas continuo preso no eqüinócio do verso,
onde a idéia é estagnada. 
Aqui só ouço matéria-prima.
As palavras me sussurram. 
Meu regalo é esculpi-las,
livrar-me do que não convém. 
Poeta é escultor de palavras 
e ministro da invenção.