terça-feira, 24 de setembro de 2013

LI




Um dia você acorda
E o vazio te domina
Você sente que o tempo
Te abandona
E a vida continua
Apressada
Como seus passos
Indo para o trabalho
Você não quer voltar
Você sonha com o dia que terá coragem
De não voltar para casa
Depois do trabalho
Vai à igreja
Pede a Deus que te perdoe os pecados,
Que o sofrimento acabe,
Que a vida melhore
Mas quando volta pra casa
Nada te consola
Abre a porta
Ganha um beijo,
Um tapa
Se tranca no quarto
Sozinha
E se mata.


Poema escrito a partir de um texto de Érica Leme, autora do blog Ser Leitora.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

L



A poesia nunca me obedece
Ela sempre é injusta com quem está lendo
Mas essa nunca é a minha intenção
Eu escrevo porque ela quer sair
E minhas mãos são a janela aberta
De onde os versos teimam em atirar-se
Sem olhar quem passa na rua abaixo
A poesia nunca sabe o que se passa
Por trás dos olhos que as lê
Por isso, eu peço perdão




XLIX




Sou filho de fazendeiro
Criado a beira do Paraíba
Tenho apenas duas mãos 
Ando sobre dois pés descalços 
Minhas costas são frágeis 
Mas eu carrego o sentimento do mundo
Maldita seja essa sen-si-bi-li-da-de 
Malditas sejam as pedras no meu caminho
Maldito seja o poema no meu bolso de trás
Malditas são essas palavras que ferem tanto
Como são injustos os poetas 
Por saberem o que sentimos
Sem nos conhecerem 
Como seria bom afronta-los 
E agora, Drummond?
Antes da luz apagar
E o povo sumir
Me diz pra onde é que a gente vai daqui
Para que lado nós temos de seguir?



XLVIII



Não quero ficar preso em você
Nem faz sentido ter ciúmes do que não é meu
Ah, mas que merda!
Já estou pensando nisso outra vez
Não sou capaz de descrever o quanto eu te quero
E como eu quero ainda mais não te querer
Amar é chato demais
Complicado demais
Perigoso demais
E eu tenho mil formas de não saber o que fazer
Posso ficar aqui pensando a noite toda
E não fazer nada
Ou posso arriscar agir e te perder 
Acho melhor ficar em casa
Abrir a geladeira
Procurar alguma coisa pra beber
Pra esquecer isso tudo
Até amanhã...


XLVII



Sobre o amor de verdade
Eu não sei escrever
Ele não cabe no poema
Mas se o relógio não quer acertar
Siga do seu jeito
Guarde essas palavras como um beijo
Um dia a gente se encontra
Um dia você me conta
Se esse beijo ainda é meu


sexta-feira, 13 de setembro de 2013

XLVI



As palavras são brinquedos
Que eu uso
Pra fazer de quem as lê
Parte do meu mundo

As palavras são mentiras
Que eu invento
Pra que eu seja realmente
Parte de todo mundo



terça-feira, 10 de setembro de 2013

XLV



O trem para
As portas abrem
O povo corre
Eu corro os olhos no povo
As portas fecham

O trem corre
Eu corro, em vão, os olhos pelo vagão

O trem para
As portas abrem
O povo corre
Eu saio
As portas fecham

Mas o vagão permanece lá
Ele que não corre em vão

Enquanto eu continuo correndo
Procurando seus olhos
Dentro da multidão


XLIV



O meu sangue até parece
Que carrega alguma espécie de veneno
Porque quando eu estou sozinho
Eu não me aguento
Me afogo até cair no escuro
E lá me deito
Fico parado
Calado
Esperando
Sonhando
Acordado
Pensando
Em parar de esperar
O momento de levantar
Viver e ver
A minha vida começar
Mas nunca começa


quarta-feira, 4 de setembro de 2013

XLIII



Encanta-me o céu
Sem obstáculos
Revestido de estrelas
E um violão por perto
Que preencha os vazios da fala
Encanta-me um papel qualquer
Onde eu possa despir sentimentos
Na tinta escorrida de próprio punho
Como as gotas de papel
Que nas manchas de tinta
Criam imagens na mente
Assim eu, que sou poeta
Faço poesia
Quase que por acidente



segunda-feira, 2 de setembro de 2013

XLII



Não sei
Nunca saberei
Posso repetir tantas vezes
Quantas for preciso
Até que faça algum sentido
Até que não faça nada
Até que eu faça algum sentido

Até que eu nada seja 


XLI



Às vezes o abismo que me prendeu
Aquele dia no seu quarto
Vem me visitar
E não marca hora para chegar
Um dia ele veio no ônibus
A caminho do trabalho
Tive que disfarçar as lágrimas que vinham sem convite
Foi a ultima vez que eu chorei
O abismo veio outras vezes
Mas eu não choro mais
Não que esteja mais forte ou preparado
Eu quero chorar
Mas não tenho lágrimas
Parece que a dor não quer sair de mim
Meus sonhos parecem não ter lugar para mim
Sinto que estou acabando
Algo está morrendo dentro de mim
E a tristeza, que hoje me assola, já não tem mais fim